A família é mais do que um agregado familiar, que é uma unidade de caracterização, em que os seus elementos co-habitam em economia comum, têm interdependência de atitudes e tarefas, e não há bem-estar individual se o colectivo for dominado pela perturbação e dissensão.
É a composição da família que vai influenciar a dinâmica familiar, condicionando comportamentos, que por sua vez, vão gerar solidariedade e afecto ou disfunção e afastamento.
Daí, a importância da classificação do tipo de família, quanto à estrutura e dinâmica global, para detectar lideranças e focos de união ou de atrito, e posteriormente estabelecer um plano de cuidados à família no seu todo, sem prejuízo da saúde individual.
No nosso estudo, quanto à estrutura e dinâmica global, encontrámos 72,2% das famílias identificadas nos chamados 5 tipos de família principais (família nuclear, família reconstruída, família alargada, família monoparental e família unitária), que mais tarde iremos definir.
Houve 27,8% de famílias então incluídas em outros estudos como “outras” (famílias com prole extensa, famílias com fantasma, díade nuclear, famílias consanguíneas, famílias dança a dois, famílias com dependente, famílias acordeão, famílias flutuantes, famílias de co-habitação, famílias descontroladas, famílias grávidas, famílias homossexuais, famílias múltiplas, famílias comunitárias, famílias hospedeiras e famílias adoptivas), que foram classificadas, identificadas e apresentadas estatisticamente, o que traduz mais um avanço na epidemiologia das famílias, preditivo da abolição do conceito “outras famílias”.
Qualquer família pode apresentar características pertencentes a um ou vários tipos de família, uma família pode evoluir de um determinado tipo para outro, e pode haver características simultâneas em vários tipos, pelo que não podemos ser redutores e imutáveis na definição.
As famílias predominantes foram as famílias nucleares, seguidas pelas famílias unitárias, famílias reconstruídas e famílias com dependente, o que já não seria tão previsível.
A família unitária, embora tenha origens diversas, é relevante em número e projecção do seu estatuto, e consequências em filosofia de vida, oportunidade e resultados externos.
A frequência das famílias reconstruídas no numerário e na sua representatividade, são imparáveis na sociedade portuguesa, ligada à aceitabilidade de pessoas e regime habitacional, e à procura do objectivo de felicidade.
As famílias com dependente, as famílias descontroladas, as famílias com fantasma, as famílias consanguíneas e as famílias múltiplas representam um quadro de perturbação, cada uma a seu nível, em que urge intervenção em saúde, promoção de estilos de vida saudável, atribuição de apoios institucionais, regulação estatal e civil da sociedade, organização do combate à ilicitude e ao crime.
A família grávida, a díade nuclear, as famílias alargadas, as famílias com prole extensa, representam fases do ciclo de vida e suas potencialidades, mas também incluem riscos e vulnerabilidades em que a vigilância em saúde global pode constituir a detecção e a prevenção de crise.
Da mesma forma, as famílias acordeão, as famílias “dança a dois”, as famílias homossexuais e as famílias flutuantes, em contexto de ocasião, período ou mudança de vida, precisam de apoio em saúde, gestão da dinâmica familiar e fortalecimento da rede social.
As famílias de co-habitação, as famílias comunitárias, as famílias hospedeiras, as famílias adoptivas, conforme a sua caracterização, todas justificam reflexão sobre a vivência gregária e grupal, que criará um sentimento humanitarista ou constituirá um polo de discórdia e litígio.
Com a sua diversidade, a família é a família, e não pode ser ignorada pelos decisores como cerne da sociedade, do desenvolvimento e da busca do equilíbrio social.