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Carolina Barata

Jornalista que gosta de abordar temas que surgem na sociedade, e que direta ou indiretamente, têm influência na vida pessoal de cada um. Preocupada com as gerações futuras e com o rumo que estas percorrem.

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Tema: JornalismoData de Publicação: 10/10/2024, 09h29
Jornalismo “ofegante” ou jornalismo “não domesticado”?
Atividade Jornalística @freepik
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“Uma das coisas que mais me impressiona hoje, quero dizer-vos olhos nos olhos, é estar com seis ou sete câmaras à minha frente e ter jornalistas a fazerem-me perguntas sobre determinado tema, e ver que a maior parte deles tem um auricular no qual lhe estão a 'soprar' a pergunta que devem fazer. E outros, à minha frente, pegam no telefone e fazem a pergunta que já estava previamente feita. Eu, como agente político e cidadão, olho para este quadro e digo que os senhores jornalistas não estão a valorizar a sua própria profissão”. Isto são palavras que Luís Montenegro proferiu esta terça-feira, dia 8 de outubro, numa conferência sobre “O futuro dos media”.

Para além destas infelizes e desinformadas ilações, o PM pediu ainda à comunicação social que fosse “mais tranquila na forma como informa, na forma como transmite os acontecimentos e não tão ofegante”. A palavra “ofegante” proferida para caraterizar a atividade jornalística, significa segundo o dicionário português, no sentido figurado, “muito cansado, exausto, ansioso, anelante”. Será que o trabalho dos jornalistas cansa a sua audiência? As pessoas estarão cansadas de ver notícias na TV, na rádio, no jornal, nos sites? A sociedade estará exausta de receber informação verdadeira e verificada? Talvez sim, talvez não, ou será o poder político que está cansado de um jornalismo que cumpre com a sua missão.

O jornalismo foi, é, e sempre será um dos principais pilares da democracia. E isto já ouvi e todos ouviram da boca de muitos dos que integram o Governo. Este tipo de discurso, na ótica dos políticos, convém proferir em determinadas ocasiões, em comemorações pomposas e de cravo ao peito. Desta forma já parecem os totais defensores da liberdade de expressão, e os repressores da censura, que assolou esta profissão durante anos. Nestas circunstâncias já é bonito dizer-se certas coisas.

Voltando ao jornalismo enquanto pilar da democracia, é importante também referir que, o trabalho jornalístico baseia-se em informar. Para informar os cidadãos de forma isenta, rigorosa e verdadeira, é necessário investigar, verificar factos, e também questionar. Para se questionar, é necessário que o jornalista se informe sobre o tema em questão. É desta pesquisa que surgem as perguntas, que são escritas, ou eventualmente podem estar num telemóvel. Mas o que sei eu? Sou só uma mera jornalista que não valoriza a profissão, até porque costumo levar as perguntas num telemóvel.

Muitas vezes, os jornalistas deslocam-se a eventos, que não têm interesse público, e servem apenas de montra para certas personalidades. E sabem porquê? Para tentarem obter respostas sobre determinados assuntos, por parte do poder político. Porque ninguém imagina a burocracia que existe para falar com presidentes de juntas e de câmaras. Imagine-se os recursos que são necessários para fazer perguntas, que não vêm de auriculares,- garanto que os “fones” que temos no ouvido não servem para isso-,  ao presidente da república, ao primeiro-ministro, e já nem falo em ministros e secretários de estado.

Portanto que sejamos assim, não tranquilos e ofegantes sempre, para que as pessoas fiquem informadas. Não é o sonho de nenhum jornalista, que gosta realmente do que faz, ser um “pé de microfone”, que coloca questões que são pouco interessantes para o público. É por isso, e agora falo para o PM, que a maior parte do nosso setor pratica um jornalismo “ofegante”. Porque procuramos a verdade, investigamos até à última fonte, para garantir que a informação chega isenta ao recetor. Nunca gostámos de ser domesticados por ninguém, muito menos pelo poder político, foi por isso que sofremos e lutámos ao longo de anos, para garantir o nosso lugar na esfera pública.

No entanto, não estou aqui para dar lições de como ser jornalista a ninguém. Muito menos para apontar o dedo a alguém. Apenas quero deixar claro que todas estas declarações me parecem infundadas e pouco felizes. Uma personalidade com este peso político, tem certamente bastante influência diante a sociedade, tal como já se viu com outras figuras ao longo da história. Todas as ilações que foram proferidas, e que volto a referir, claramente infundadas, - deixem-me repetir porque eu gosto de ser ofegante-, acabam por descredibilizar e desvalorizar uma profissão que é um dos “pilares da democracia”. Acaba por minar a confiança da sociedade nos meios de comunicação.

Então quem é que está a desvalorizar a profissão, e a fazer com que a sociedade desconfie da informação que lhes é passada, por pessoas que fazem o esforço para a procurar?  Pois, não me parece que sejam os auriculares e os telemóveis dos jornalistas, senhor Primeiro-Ministro. E já agora aconselho-o a informar-se da atividade jornalística junto dos seus assessores de imprensa, que com toda a certeza saberão explicar-lhe o que é.

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