A história da Nokia é um dos exemplos mais marcantes de ascensão meteórica e queda rápida no mundo dos negócios. Fundada em 1865 na Finlândia como uma fábrica de papel, a empresa começou sua jornada em um setor completamente diferente do que a tornaria famosa. Foi somente no século XX que a Nokia começou a diversificar seus negócios, entrando em indústrias como borracha, eletrônicos e, eventualmente, telecomunicações.
A Ascensão ao Topo
Nos anos 1980, a Nokia começou a se destacar no mercado de telecomunicações, apostando na então emergente tecnologia de telefonia móvel. Ao concentrar esforços no desenvolvimento de padrões como o GSM (Global System for Mobile Communications), que viria a se tornar o padrão global para comunicações móveis, a Nokia garantiu uma posição estratégica no setor. Esse pioneirismo técnico foi essencial para impulsionar sua liderança durante o boom dos telefones móveis nos anos 1990 e início dos anos 2000.
Com modelos icônicos como o Nokia 3310 e o Nokia 1100, a empresa conquistou um espaço sem precedentes no mercado. Esses aparelhos eram reconhecidos por sua resistência física, longa duração de bateria e facilidade de uso, características que os tornaram populares em uma ampla gama de mercados, desde países desenvolvidos até economias emergentes. Além disso, o Nokia 1100 foi um dos telefones mais vendidos da história, ultrapassando a marca de 200 milhões de unidades.
No início dos anos 2000, a Nokia controlava quase 40% do mercado global de telefones móveis, uma posição que era praticamente um monopólio. Em alguns mercados, sua participação era ainda maior, chegando a 60% em regiões como a Europa Oriental, Índia e África. A empresa era tão dominante que o termo "Nokia" era frequentemente usado como sinônimo de celular. Durante esse período, a Nokia produzia mais aparelhos do que suas concorrentes Motorola, Siemens e Samsung juntas.

A base desse sucesso não estava apenas no hardware, mas também em seu sistema operacional, o Symbian. Na época, o Symbian era o principal software usado em smartphones, suportando funcionalidades avançadas, como navegação na internet, organização pessoal e multimídia. Modelos da série N, como o Nokia N95, representavam o auge da inovação tecnológica, combinando câmeras de alta resolução, música, conectividade Wi-Fi e suporte a aplicativos, antecipando tendências que os smartphones modernos seguiriam.
A Nokia também investiu fortemente em sua cadeia de suprimentos e capacidade de produção, permitindo-lhe lançar novos modelos rapidamente e atender à crescente demanda global. Sua presença global era complementada por uma rede de distribuição robusta, alcançando até mesmo os mercados mais remotos. A marca tornou-se sinônimo de confiabilidade, inovação e acessibilidade, consolidando-se como um ícone cultural e econômico.
No entanto, enquanto a Nokia estava no topo, mudanças fundamentais no mercado de tecnologia começavam a surgir, ameaçando seu domínio absoluto – transformações que, como se mostraria mais tarde, a empresa subestimou profundamente.
Os Primeiros Sinais de Declínio

Apesar de seu domínio nos anos 2000, o cenário tecnológico mudou drasticamente em 2007, com o lançamento do iPhone da Apple. Este dispositivo não era apenas um telefone, mas um computador de bolso com uma interface intuitiva baseada em toque, aplicativos integrados e uma experiência centrada no usuário. A Apple introduziu o iOS, um sistema operacional fluido e robusto, projetado para tirar proveito do hardware sofisticado. Isso redefiniu o que os consumidores esperavam de um telefone celular.
Poucos anos depois, em 2008, o Google entrou no mercado com o Android, um sistema operacional de código aberto que rapidamente ganhou espaço entre os fabricantes de smartphones. O Android oferecia flexibilidade, incentivava inovações de terceiros e possibilitava preços competitivos, criando uma explosão de dispositivos diversificados. Enquanto isso, o iOS consolidava sua posição como a escolha premium, com uma forte integração de hardware e software.
A Nokia, por outro lado, foi lenta em reconhecer essas mudanças disruptivas. Seu sistema operacional Symbian, que havia dominado a era pré-smartphones, mostrou-se antiquado em comparação com os novos sistemas. Ele era menos amigável, oferecia uma experiência fragmentada e enfrentava dificuldades para atrair desenvolvedores, o que resultou em uma biblioteca limitada de aplicativos. Enquanto iOS e Android criavam ecossistemas vibrantes e adaptáveis, a Nokia insistia em soluções internas que já não atendiam às expectativas do mercado.
Internamente, a Nokia enfrentava processos burocráticos e fragmentação estratégica. Suas decisões demoravam a ser implementadas, e a empresa subestimou a importância de transitar de um foco em hardware para um modelo centrado em software e experiência do usuário. Quando finalmente tentou reagir, já era tarde demais para competir com as plataformas que haviam estabelecido um domínio tecnológico e cultural.
A Escolha do Windows Phone: A Decisão que Precipitou o Declínio
A parceria da Nokia com a Microsoft em 2011, que culminou na adoção do Windows Phone como seu sistema operacional principal, foi amplamente vista como a última tentativa desesperada de reverter sua queda no mercado. A decisão, liderada pelo então CEO da Nokia, Stephen Elop, um ex-executivo da Microsoft, foi controversa desde o início. Elop argumentava que o Symbian estava obsoleto e que o Android já era dominado por outras marcas, como Samsung. No entanto, ao abandonar completamente seu sistema próprio e ignorar o Android como alternativa, a Nokia alienou sua base de usuários e desenvolvedores, que estavam cada vez mais atraídos pelos ecossistemas ricos do iOS e Android.
O Windows Phone, apesar de visualmente inovador com sua interface de "blocos dinâmicos", faço aqui a avaliação de que comprei um Lumia para testes e achei a interface bem disruptiva, nunca conseguiu atrair desenvolvedores suficientes para criar um ecossistema competitivo de aplicativos. A falta de apps populares, somada à percepção de que o sistema era restritivo e menos intuitivo, desmotivou consumidores. Além disso, a Microsoft enfrentava dificuldades para convencer fabricantes de hardware a adotar o Windows Phone, resultando em baixa adoção global. Para muitos, a escolha da Nokia foi vista como um "abraço mortal", pois atrelou o destino da empresa a uma plataforma emergente que não conseguiu competir.
Os Críticos apontaram Stephen Elop como um dos principais responsáveis pelo colapso. Sua estratégia foi descrita como excessivamente alinhada aos interesses da Microsoft, culminando na venda da divisão de dispositivos da Nokia à gigante de Redmond em 2013. Muitos especulam que essa venda era um desfecho previsível de sua liderança. Outros líderes dentro da Nokia também foram responsabilizados por sua incapacidade de resistir à estratégia de Elop e por subestimar a importância de adotar o Android, que acabou consolidando-se como a escolha dominante no mercado global de smartphones. A decisão pelo Windows Phone foi um erro estratégico que acelerou a ruína de uma empresa que já estava em uma posição vulnerável.
A receita da empresa despencou, e sua participação de mercado caiu drasticamente. Em 2013, a Nokia vendeu sua divisão de dispositivos móveis para a Microsoft por US$ 7,2 bilhões, marcando o fim de uma era.
Lições de uma Decisão Errada

A queda da Nokia é um exemplo poderoso de como até mesmo as maiores empresas podem falhar ao não acompanhar as mudanças do mercado. A escolha pelo Windows Phone, ignorando o potencial do Android e subestimando o impacto do iOS, foi uma decisão que cristalizou os desafios internos e estratégicos da empresa. Ao focar em uma parceria arriscada com a Microsoft, a Nokia sacrificou sua independência e a flexibilidade necessária para se reinventar em um mercado que estava mudando em uma velocidade sem precedentes.
Estar no topo muitas vezes cria uma sensação de invencibilidade, mas o mercado tecnológico é implacável para aqueles que não conseguem inovar continuamente. A Nokia dominava o mercado global de telefones móveis, mas sua incapacidade de antecipar o futuro dos smartphones, priorizando ecossistemas de software em vez de hardware, transformou um império em um negócio obsoleto em poucos anos. A decisão de apostar no Windows Phone foi um erro que não apenas isolou a Nokia, mas também desmotivou consumidores e desenvolvedores, selando o destino de sua divisão de dispositivos móveis.
No entanto, a história da Nokia também é um testemunho de resiliência. Após a venda de sua divisão de smartphones à Microsoft, a empresa redirecionou suas operações para o setor de infraestrutura de telecomunicações. Hoje, a Nokia é uma das líderes globais no desenvolvimento e fornecimento de tecnologias para redes 5G, colaborando com operadoras e empresas ao redor do mundo. Sua atuação nesse segmento é crucial para a próxima fase da conectividade global, ajudando a moldar o futuro das comunicações.
Além disso, a marca Nokia retornou ao mercado de dispositivos móveis por meio de um licenciamento estratégico com a HMD Global, que produz smartphones e feature phones sob o nome da empresa finlandesa. Embora esses dispositivos tenham um impacto modesto em relação ao passado glorioso da Nokia, eles mantêm viva a marca em mercados emergentes e entre consumidores que buscam aparelhos confiáveis e acessíveis.
A história da Nokia é, em última análise, um lembrete de que nenhuma liderança de mercado é garantida e que as escolhas estratégicas podem fazer ou destruir empresas. Sua trajetória de ascensão, queda e reinvenção demonstra como é vital para as organizações se adaptarem rapidamente às mudanças tecnológicas e às demandas dos consumidores. Enquanto a Nokia continua a construir seu legado no setor de telecomunicações, sua história serve como uma lição para empresas de todos os setores: a inovação constante e a capacidade de se reinventar são as únicas garantias contra a irrelevância.