Em um mundo extremamente polarizado onde o ódio parece prevalecer e com muitos a fazer atrocidades em nome de Deus resolvi fazer um exercício de raciocínio para imaginar que se Jesus aparecesse hoje, provavelmente a humanidade o trataria com a mesma divisão que estamos a tratar uns aos outros. Dependendo do grupo, ele poderia ser visto como um revolucionário perigoso, um líder espiritual necessário, um radical inconveniente ou até um charlatão. O mundo atual anda tão complexo que eu vou dividir este exercício em temas e levarei em conta que a internet seria uma ferramenta poderosa para sua mensagem, mas também um campo de batalha para além de que, mesmo sendo contra interpretações literais de trechos da Bíblia, tentarei fundamentar minhas análises para aqueles mais ferrenhos interpretadores bíblicos.
Medias:
- Alguns veículos o transformariam em uma celebridade espiritual, destacando seus ensinamentos de amor e compaixão (Mateus 5:44 - "Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem").
- Outros o atacariam, questionando sua autoridade, descredibilizando seus milagres ou chamando-o de extremista (Lucas 11:15 - "Mas alguns deles disseram: Ele expulsa os demônios por Belzebu, o príncipe dos demônios").
- Ele seria alvo de fake news, memes e teorias da conspiração (Mateus 26:59 - "Os principais sacerdotes e todo o Sinédrio estavam procurando falso testemunho contra Jesus, para que pudessem condená-lo à morte").
Religiões e Instituições:
- Algumas denominações cristãs o rejeitariam por desafiar dogmas estabelecidos (Marcos 7:6-7 - "Bem profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim").
- Outras o abraçariam como a Segunda Vinda, mas com divergências sobre sua interpretação (Mateus 24:5 - "Porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Eu sou o Cristo’, e enganarão a muitos").
- Religiões não cristãs poderiam vê-lo como mais um líder espiritual ou até uma ameaça (João 10:33 - "Não é por nenhuma boa obra que te apedrejamos, mas por blasfêmia, pois sendo tu homem, te fazes Deus").
Governos e Política:
- Provavelmente seria monitorado ou perseguido por governos, especialmente se desafiasse o status quo (Lucas 23:2 - "E começaram a acusá-lo, dizendo: Encontramos este homem pervertendo a nossa nação, proibindo pagar tributo a César").
- Seria usado como símbolo por diferentes ideologias – algumas deturpando suas palavras para justificar agendas políticas (João 18:36 - "Meu reino não é deste mundo").
- Poderia ser considerado um "influenciador perigoso" ou "ameaça à ordem pública" (João 11:50 - "Não percebeis que vos é melhor que morra um homem pelo povo, e que não pereça toda a nação").
Cultura Pop e Economia:
- Empresas poderiam tentar comercializar sua imagem, enquanto ele rejeitaria o materialismo (Mateus 6:24 - "Ninguém pode servir a dois senhores; porque há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom").
- Artistas o representariam de diferentes formas – como rebelde, visionário ou até um personagem fictício (Isaías 53:3 - "Foi desprezado e rejeitado pelos homens, homem de dores e experimentado no sofrimento").
- Seu discurso de desapego ao dinheiro e poder incomodaria elites econômicas (Mateus 19:21 - "Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu").
Imigração:
- Ele pregaria acolhimento e solidariedade, lembrando que "era estrangeiro, e me acolheram" (Mateus 25:35), já que ele próprio viveu como refugiado no Egito quando criança (Mateus 2:13-15).
- Provavelmente criticaria políticas que desumanizam imigrantes e refugiados (Levítico 19:34 - "O estrangeiro que peregrina convosco será como o natural entre vós, e o amarás como a ti mesmo").
- Defenderia que todas as pessoas, independentemente de sua nacionalidade, têm dignidade e direito a uma vida melhor (Gálatas 3:28 - "Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher, pois todos são um em Cristo Jesus").
Extremistas como muitos adeptos do tal "Deus, Pátria e Família":
- Combateria as religiões que transforma a fé e lucro e riqueza, já que Jesus criticava os fariseus por usarem a religião para oprimir os outros (Mateus 23:23-27).
- Ao estilo John Lennon em na musica "Imagine". Ele não pregava um nacionalismo cego, mas sim um Reino de Deus que transcendia fronteiras (Filipenses 3:20 - "Mas a nossa pátria está nos céus").
- Defenderia como família relações de amor, pois ele quebrou padrões ao acolher prostitutas, cobradores de impostos e marginalizados, criando uma "família espiritual" baseada no amor e não na moralidade imposta (Lucas 8:21 - "Minha mãe e meus irmãos são aqueles que fazem a vontade de Deus").
Internet:
- Poderia ter perfis no X (Twitter), Instagram e TikTok, compartilhando ensinamentos em vídeos curtos (Marcos 16:15 - "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura").
- Seria alvo de cancelamentos e distorções (João 15:18 - "Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim").
- Poderia condenar a superficialidade e o consumismo digital (Mateus 6:19 - "Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e roubam").
Se Jesus voltasse hoje, seu destino provavelmente não seria uma cruz de madeira, mas um linchamento digital e político. Ele continuaria desafiando os poderosos, acolhendo os marginalizados e ensinando que o amor e a compaixão estão acima de qualquer ideologia humana. No final, o mais provável é que ele fosse perseguido novamente – seja na mídia, na política ou até fisicamente.
Termino este artigo, onde tentei contrapor o uso exagerado de Deus para propagar o ódio e mesmo que John Lennon em sua clássica música "Imagine" tenha incluído religião nas coisas que deveriam inexistir no trecho "...and no religions too" também alusão a como as religiões afetam as relações humanas, para que possamos refletir sobre o caminho que estamos indo como humanidade, seja qual for nossa nossa crença, nacionalidade ou etinia.