O direito à cidade é um conceito do filósofo francês Henri Lefebvre, expresso em “Direito à Cidade”, publicado em 1968, que definia esse direito não relativo a uma cidade arcaica, mas à vida urbana, à centralidade renovada, aos locais de encontro e de trocas, aos ritmos de vida e empregos do tempo que permitem o uso pleno e inteiro desses momento e locais.
E adianta que a realização da sociedade urbana exige uma planificação orientada para as necessidades sociais, para a qual é necessária uma ciência da cidade (das relações e correlações na vida urbana), bem como uma força social e política orientadora e transformadora.
Recentemente, o conceito foi renovado pelo geógrafo inglês David Harvey, em “Cidades Rebeldes: do direito à cidade à revolução urbana”, publicado em 2012. Para Harvey, há grande ênfase na urbanização, em que o capitalismo produz excedentes de produção exigidos pela urbanização, ao mesmo tempo que precisa da urbanização para absorver o excedente de produção.
E destaca que o tipo de cidade que queremos está relacionada a que tipo de pessoas que queremos ser, que tipos de relações sociais buscamos, que relações com a natureza nos satisfazem, que estilo de vida desejamos levar e quais são nossos valores estéticos. É um direito que depende do exercício de um poder coletivo sobre o processo de urbanização.
Para nós, seria uma verdadeira movida, onde as pessoas se encontram, os cidadãos se expressam, os consumidores adquirem ou trocam bens, os comerciantes aplicam o preço justo, os industriais produzem o que é necessário e útil, os profissionais exercem mister e ética, os contribuintes analisam a sua carteira fiscal, os namorados trocam emoções, os benfazejos revitalizam a solidariedade.
É necessário ouvir os cidadãos e as cidadãs, expondo questões que relacionem a criação da cidade sustentável, as assimetrias sociais quanto às populações urbanas e ruralizadas, a fruição e a qualidade de vida que transformam a cidade num bem comum.
É imperioso caracterizar a cidade de Coimbra, quanto ao design, à acessibilidade, ao ambiente urbano e ao potencial de mudança para uma nova Coimbra, sem perder a velha Coimbra, com ênfase na cidade inclusiva, sem perder a cidade inteligente, política e laboratório.
É urgente recriar a cidade, em que o lucro, o consumismo, a festa bacoca, os estilos de vida que tiram a vida, não substituam a cidade sustentável, o urbanismo amigo do cidadão, a preservação do património, o respeito pela história, a inovação no design e aplicação da ciência, a acessibilidade e a inclusão, a ação social não miserabilista, o desporto para todos, a competitividade com regras, o empreendedorismo direcionado para a utilidade.
A gestão de Coimbra não precisa de agitação e propaganda fútil, de governo pelas redes sociais, de iludir o povo, de não cumprir promessas, de justificar o injustificável e evidente, de arrogância e pesporrência, de turismo descontrolado.
Precisa de obras estruturantes, de democracia representativa aliada à democracia participativa, de assembleias cidadãs e diálogo dos decisores com interlocutores organizados, de um projeto unitário que não divida pessoas, ideias e fins comunitários, que aproxime a política do dia a dia, que Coimbra p´ra ser Coimbra três coisas há-de contar: aprofundamento da democracia, transformação social e progressismo, desenvolvimento sustentável.
Só assim será poema, só assim terá razão, só assim será Coimbra, a cidade e a urbanidade, a construção do futuro para ser futuro, prestigiada.