loading

- Publicidade -

Avatar

Carla Henriques

Mãe | Encaro cada desafio com a convicção de que há sempre um bem maior pelo qual vale a pena lutar e permanecer | Licenciada em Direito | Diretora de Compliance | Acredito na formação e com ela aposto na justiça e crescimento pessoal, mas acima de tudo, na procura da felicidade | Vivo na serenidade da Figueira da Foz, onde o mar é o meu eterno refúgio e conselheiro.

- Publicidade -

Tema: AmorData de Publicação: 21/03/2025, 14h20
As Peças do Puzzle
Amizade ©Freepick
Amizade ©Freepick

Há conversas que nos deixam a pensar. Pequenos diálogos que se infiltram na mente e ganham raízes, obrigando-nos a questionar tudo o que achávamos saber ou dávamos como certo. Foi isso que me aconteceu, num destes dias, numa troca de palavras com alguém de quem gosto muito — alguém a quem, num misto de ternura e provocação, chamo carinhosamente de “estúpido”. Forma estranha de tratar alguém, bem sei, mas todos temos formas estranhas de chamar quem nos é especial.

Ouvi-o atentamente.

Fiquei a pensar na nossa conversa e no que me disse, embora já tivesse, de alguma forma, uma opinião formada. Mas sem querer revelar demasiado, sem querer partilhar mais do que devo, fiquei presa nesta ideia: quantas vezes nos encontramos num limbo entre duas vontades ou desejos?

Entre a necessidade de liberdade, de explorar, de viver sem amarras… e o desejo de ter alguém ao lado. Alguém que nos acolha, que nos segure na instabilidade dos dias, que nos olhe e nos veja de verdade. Que nos faça sentir especiais, mas que, ao mesmo tempo, nos dê espaço. Um verdadeiro equilíbrio entre ter — alguém — e ser — alguém, na nossa individualidade.

Será que temos mesmo de escolher?

Será que o equilíbrio entre estes dois mundos é uma utopia?

Eu acredito que não!

Sempre acreditei que é possível conciliar os dois mundos. Talvez até sejam, na verdade, três. O meu. O dele. O nosso.

Sim, acredito que é possível, quando há verdadeira cumplicidade. Quando a intimidade se constrói de forma natural. Aí, nem o céu é o limite. Não deveria haver barreiras. Não deveria haver um “ou isto, ou aquilo”. Um “ou é assim ou não é”.

Lembrei-me de uma frase de Gabriel García Márquez que sempre me tocou:

"Nem o amor é uma gaiola, nem a liberdade é estar sozinho. O amor é a liberdade de voar acompanhado. E deixar ser sem possuir."

É isso. A essência está precisamente aí. A vida a dois não tem de ser uma prisão, nem a liberdade precisa de ser solidão.

Bem sei que isso não se força. Não se constrói com pressa, nem se impõe. É preciso tempo. Aquele que tantas vezes queremos e teimamos em apressar.

Não escolhemos as pessoas com quem criamos intimidade, conexão, desejo. Ou acontece… ou não acontece. De forma natural e imediata.

E, quando acontece — quando duas peças do mesmo puzzle se encontram — tudo encaixa sem esforço. A partilha acontece.

Ter alguém ao lado não significa abrir mão de quem somos. Do nosso ser. Da nossa liberdade. Significa encontrar alguém que entenda que o “eu”, o “tu” e o “nós” precisam de existir em harmonia. Alguém que nos permita espaço para sermos livres, mas que, ao mesmo tempo, esteja lá para partilhar os momentos que realmente importam – os tranquilos e os intensos, os simples e os ousados.

Acredito que isso existe!

Mas sei que não é fácil. Não surge num estalar de dedos. Num piscar de olhos.

Não podemos simplesmente chegar ao pé de alguém e despejar tudo o que nos vai na cabeça. Nem sempre será bem recebido. Nem sempre a outra pessoa estará pronta para ouvir certas coisas. Para aceitar outras.

Intimidade não se impõe. Descobre-se. Revela-se aos poucos. Mas, quando se encontra essa sintonia, empatia, cumplicidade e desejo…

Quando há esse encaixe…

Quando ambos se permitem quebrar barreiras…

Então tudo se torna possível. Até aquilo que antes parecia impossível.

As peças do puzzle juntam-se como se sempre tivessem estado destinadas a isso.

Talvez demore. Talvez seja preciso coragem. Tempo. Construção.

Mas continuo a acreditar que o ser humano não nasceu para viver sozinho. Disse-o. Disse-lhe.

É nisto que acredito.

E… que algures por aí, existe sempre alguém com quem partilhar tudo. Mesmo as loucuras. Mesmo os desejos. Mesmo as partes que guardamos em silêncio, à espera do momento certo para serem ditas. Sem medos ou receios.

Afinal, quem não guarda segredos e desejos? Quem não esconde fantasias e vontades?

O “estúpido”, como carinhosamente lhe chamo, talvez apenas precise de limpar a cabeça e quebrar as barreiras. A vida fluirá.

E talvez esse momento, em que as peças — como num puzzle — se encaixam, esteja mais perto do que ele imagina.

- Publicidade -

()Comentários

loading
A verificar login...

Últimos artigos do autor

loading

Artigos de Opinião da Região

loading