Há um tipo especial de coragem que raramente é celebrada. Não se mede em feitos heroicos, em prémios ou em palcos. É silenciosa, discreta, quase invisível — mas profundamente transformadora.
É a coragem de estar só. De escolher estar só. De desfrutar da própria companhia sem que isso soe a derrota, tristeza ou vazio.
Passo muito tempo sozinha — e gosto disso. Leio, escrevo, canto, danço… Faço tudo aquilo que, provavelmente, não faria se estivesse acompanhada. Não há máscaras nem pressa, apenas espaço para ser.
Sim, adoro uma boa companhia — quem não gosta? Mas não abdico dos meus momentos a sós. São essenciais para me recentrar, para escutar o que o barulho do mundo tende a calar. É nesses silêncios que me reencontro.
E talvez seja assim para todos nós: antes de nos darmos ao mundo, precisamos de nos dar a nós mesmos.
A solidão escolhida pode ser o lugar mais fértil para a autenticidade. Porque quem se conhece, encontra-se. E quem se encontra, não se perde — nem mesmo no meio da multidão.
Noutro dia li uma frase de Daniel Craig que dizia: "Se você tem o poder de comer sozinho num restaurante ou sentar-se sozinho num cinema, então você tem o poder de fazer absolutamente tudo o que quiser na vida." Esta citação toca num ponto que muitos evitam: o desconforto do silêncio, a inquietação de uma mesa posta para um, a vulnerabilidade de estar consigo mesmo — sem distrações, sem plateia.
Mas há uma força poderosa nessa solidão. A coragem de se bastar, de apreciar a própria companhia, de caminhar sem muletas emocionais. Quem se sente bem sozinho, está verdadeiramente preparado para estar com os outros — de forma mais inteira, mais livre, mais verdadeira.
Vivemos numa cultura que idolatra o barulho, os grupos, as selfies em multidão. Estar sozinho tornou-se quase um ato subversivo. Quem almoça sozinho é, muitas vezes, olhado com pena. Quem vai ao cinema sem companhia é visto como excêntrico. E, no entanto, há ali uma liberdade pura, indomável — um espaço onde somos só nós, sem filtros, sem distrações, sem muletas sociais.
Comer sozinho num restaurante é um gesto de autonomia. É dizer: "Eu mereço este momento, mesmo que não tenha ninguém para partilhá-lo." Sentar-se sozinho numa sala de cinema é confiar que a nossa presença é suficiente. Que não precisamos de testemunhas para validar o que sentimos.
Quando nos tornamos confortáveis na nossa própria presença, o mundo muda. O medo da rejeição diminui. A urgência da aprovação esvanece. E descobrimos que somos inteiros, mesmo sem plateia. A partir daí, somos verdadeiramente livres para escolher — não o que nos é imposto, mas aquilo que realmente nos faz sentido.
Estar só não é estar vazio. É, muitas vezes, estar pleno. Porque quem se encontra consigo mesmo, pode encontrar tudo o resto com mais verdade, mais clareza e mais paz.