Todas as histórias de amor têm uma música. Sempre ouvi dizer. Não o digo por experiência.
Dizem que todas as histórias de amor têm uma música. Pode ser a que tocava quando se conheceram, a que ouviram juntos no primeiro encontro, a que tocava baixinho no carro enquanto as mãos se procuravam no escuro, ou aquela que ele insitia em cantar desafinadamente e que ela fingia não gozar, mas por dentro, ria sempre.
A música entranha-se na pele, do tempo, como se tivesse nascido só para acompanhar aquele amor. Como se o compositor, sem saber, tivesse escrito exatamente o que os corações sentiam — com a melodia certa, no compasso certo, na altura certa.
Há sempre uma canção que nos devolve a alguém. Que nos transporta para aquele momento que vivemos. Uma música que, sem pedir licença, nos atravessa como se fosse uma viagem no tempo. E não importa quantos anos passaram, quantas outras vozes ou outros rostos tenham vindo depois… quando ela começa a tocar, tudo volta. O sorriso dele, o cheiro do lugar, o frio na barriga, a certeza tola de que o mundo podia parar ali e eu não me importaria. Porque, por instantes, havia um universo inteiro só entre nós dois. E a banda sonora perfeita para embalá-lo.
A música tem esse poder raro: o de eternizar o que foi fugaz. De transformar um instante em memória. De fazer reviver, mesmo que apenas por três minutos e meio, aquilo que julgávamos esquecido. E o mais curioso é que não precisamos de compreender a letra — às vezes basta um acorde, uma voz, um refrão que se cola à alma como uma promessa.
Mesmo quando o amor vai embora, a canção fica. Fica como um eco do que fomos, como um sussurro que nos diz: “vês? Foste feliz.” Às vezes, dói ouvir. Outras vezes, conforta. Mas nunca passa despercebida. Porque aquela música... é nossa. Foi nossa. Será sempre!
E mesmo que o amor tenha mudado de forma, mesmo que ele já não viva nos gestos, nem nos olhares trocados, ele vive ali. Naquela faixa. Naquela voz que canta por nós, mesmo quando já não nos lembramos das palavras exatas.
Talvez o amor, no fim de tudo, seja isso: uma trilha sonora que a vida não apaga. Uma canção que sobrevive a qualque história. Que nos pertence, mesmo quando já não pertencemos um ao outro.
E talvez, um dia, ao ouvirmos essa música ao acaso, num café qualquer, no meio de uma playlist esquecida… sorriremos. Porque naquele instante, mesmo sem querer, mesmo sem estar à vista — o amor volta a acontecer. Dentro de nós.