A Ponte do Vouga, estrutura de origem medieval parcialmente colapsada em 2011, voltou a estar no centro do debate político em Águeda. O executivo municipal defende a necessidade de financiamento externo para avançar com a reabilitação, enquanto o Bloco de Esquerda acusa a autarquia de negligência na preservação do património, de acordo com os comunicados de imprensa consultados pela Central Press.
Em comunicado, a Câmara Municipal recorda que a ponte passou para a gestão do Município em 1996 "sem qualquer tipo de inspeção e já num estado lastimável". O primeiro alerta chegou em 2010, quando uma inspeção especializada recomendou obras em todos os componentes da ponte, mas "sem restrições à circulação". No ano seguinte, após o aparecimento de fissuras, a autarquia encerrou o trânsito automóvel e, meses depois, registou-se a derrocada de um dos pilares.
Desde então, o executivo diz ter procurado apoios nacionais e comunitários, sublinhando que a reabilitação teria um gasto de "muitos milhões de euros" e que tal investimento "a expensas próprias da Câmara Municipal obrigar-nos-ia a abandonar muitos outros projetos e investimentos absolutamente essenciais para o concelho".
A autarquia afirma ainda que, por não estar classificada como monumento, a ponte foi sucessivamente excluída de apoios. "As entidades sublinham que, do ponto de vista da mobilidade e do serviço público, a ponte nova e funcional, a pouco mais de 150 metros, é suficiente e invalida os critérios socioeconómicos para investimento", afirmam no comunicado. A classificação em curso, "em vias de classificação", desde fevereiro de 2025, poderá, segundo o executivo, abrir portas a fundos comunitários, à semelhança do que aconteceu com a Igreja da Trofa e o Panteão dos Lemos.
O Município garante "todo o interesse em recuperar a ponte", mas insiste que não o fará sem apoios externos. Ao mesmo tempo, lembra outros investimentos patrimoniais e ambientais já concretizados, como a preservação da Ponte Medieval do Marnel e a recuperação da Igreja da Trofa, e aponta para novos projetos financiados em curso, entre os quais a dragagem da Pateira de Fermentelos, no valor de 4,5 milhões de euros, o projeto europeu "LIFE Revive", no valor de mais de 4 milhões e uma intervenção no Rio Vouga e Marnel, num gasto de 1,7 milhões, destinada à renaturalização e reabilitação das margens. "Todos os trabalhos terão acompanhamento técnico especializado, garantindo a preservação das ruínas da Ponte do Vouga", assegura o executivo.
Já o bloco de esquerda, em visita recente ao local, acompanhado pelo subscritor da petição em defesa da ponte, acusou a autarquia de "inação". "As opções do executivo municipal têm contribuído para o acelerar da degradação da estrutura", declarou Cláudia Afonso, cabeça de lista, sublinhando "a importância da mobilização da sociedade na defesa dos bens públicos e do património cultural".
Cláudia Afonso denunciou ainda "o descuido com que esta zona tem sido tratada, cujas margens são férteis para espécies infestantes e os pilares da ponte amontoam resíduos e detritos". Em reunião de executivo, Cláudia Afonso questionou o presidente Jorge Almeida sobre a inclusão da ponte nos trabalhos anunciados para o Rio Vouga, a remoção de detritos, o controlo da vegetação invasora, a disponibilização pública de relatórios técnicos e eventuais contactos do Município com o Património Cultural, IP no âmbito do processo de classificação.