O Europe Direct Região de Coimbra e Leiria, em parceria com a Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC), organizou hoje uma sessão de análise dedicada ao Discurso sobre o Estado da União 2025. O evento reuniu especialistas para debater os principais eixos do discurso da Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que se focou em temas como a segurança, política externa, competitividade e condições de vida dos cidadãos, de acordo com o comunicado enviado à Central Press.
A sessão, em formato de mesa-redonda, contou com a participação de quatro especialistas: Jorge Brito, secretário executivo intermunicipal da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra; Licínia Simão, professora associada e subdiretora da FEUC; Vítor Gabriel Oliveira, presidente do Conselho Regional das Comunidades Portuguesas na Europa e secretário-geral da SEDES Europa; e Isabel Camisão, professora associada e subdiretora da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
O discurso de von der Leyen começou com a defesa e segurança europeias, classificadas como "prioridade absoluta". A presidente defendeu uma Europa mais autónoma e menos dependente de grandes potências, apostando numa política de defesa comum e na independência estratégica em matéria de armamento.
No início da sessão de debate foi questionada como a aposta numa Europa mais autónoma na defesa pode aproximar os cidadãos das instituições europeias e levantada a questão do impacto financeiro que este investimento terá na política de coesão e nos fundos estruturais, e se poderá desviar a atenção de prioridades regionais.
Outro ponto central foi a guerra em Gaza. A presidente da Comissão apelou ao fim do conflito e sublinhando a crise humanitária. Von der Leyen afirmou que a Comissão fará “tudo o que puder sozinha”.
Isabel Camisão foi questionada sobre se a União tem condições para se afirmar como um mediador imparcial, caso aplique sanções, e se a mensagem da presidente foi humanitária ou de poder político. “O discurso de hoje da presidente representa a ação da comissão, ela foi mais clara, muito objetiva. A Comissão tem um papel extremamente difícil para moldar as políticas para responderem ao cidadão. Ainda assim a comissão tem de ter o poder de equilibro, e este papel é difícil”, afirmou.
No campo económico, von der Leyen sublinhou a urgência de reforçar a competitividade europeia, apontando a transição para uma economia limpa e digital como prioridade.
Questionado sobre se a União tem condições para garantir a sua independência estratégica face a fornecedores externos como a China, Vítor Gabriel Oliveira afirmou que a UE tem de criar mecanismos para isso, e as grandes armas que pode ter para se proteger da guerra económica dos EUA é fazer parcerias com o Mercosul e a China. “Na minha opinião, só há esta maneira de pressionar Donald Trump”, destacou.
Por sua vez, Jorge Brito, quando questionado sobre o potencial da produção de baterias e da economia circular para o desenvolvimento de novas oportunidades nas regiões portuguesas, realçou a sua dificuldade em “acreditar nesta nova vaga de competitividade, porque todo o trabalho de reorientação da UE parece que desapareceu e agora há novas prioridades”. O secretário executivo da CIM Região de Coimbra sublinhou a necessidade de “pensar fora do que é obvio” e de acabar com o excesso de regulação nos processos que “é castrador da nossa produtividade”.
A presidente dedicou ainda parte do seu discurso às condições de vida dos cidadãos, classificando a crise na habitação como uma "crise social" que ameaça a competitividade europeia. Anunciou também o primeiro plano europeu para habitação a preços acessíveis.
Jorge Brito analisou o papel das autoridades regionais e locais na aplicação deste plano e como os fundos europeus podem contribuir para a reabilitação e eficiência energética das habitações. “O acesso a habitação acessível é um problema que se sente em Portugal e em toda a Europa. O problema neste momento no nosso território, e um pouco por toda a Europa, não são as políticas publicas, é a capacidade de execução”, afirmou. Sobre a questão energética, realçou que “temos programas que são boas estratégias para combater a pobreza energética, mas demoram um ou mais anos para as colocar em prática. No topo da nossa agenda, temos de colocar a necessidade de medidas que, do ponto de vista burocrático, facilitem este processo. Estratégias temos muitas, agora temos de agir”.