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Percentagem de pessoas que passa o final da vida nos serviços de urgência tem aumentado

Redação Central Press/
18/09/2025, 11h12
/
5 min
Equipa responsável pelo estudo @UC
Equipa responsável pelo estudo @UC

Entre 2015 e 2021, 13,2% das mortes que ocorreram em Portugal tiveram lugar nos serviços de urgência, revela um estudo liderado pela Universidade de Coimbra (UC). Este valor aumentou gradualmente de 10,6% em 2015 para 14,3% em 2021. A equipa de investigação acredita que a identificação destes dados pode ajudar na implementação de políticas de saúde que melhorem a prestação de cuidados de saúde em fim de vida, de acordo com o comunicado enviado à Central Press.

A equipa de investigação coordenada por Bárbara Gomes, que analisou dados relativos a locais de morte em 35 países sublinha que estes dados demonstram que “os serviços de urgência não são apenas locais para tratamento de situações agudas, mas também locais onde pessoas, de todas as idades, passam as suas últimas horas de vida – muitas vezes com necessidades de cuidados paliativos, sejam elas físicas, psicológicas, sociais e/ou espirituais”.

Em Portugal, entre 2015 e 2021, “15,7% das pessoas com demência faleceram no serviço de urgência, sendo esta percentagem mais elevada que a registada nas pessoas que morreram por cancro”, avança a investigadora coordenadora da Faculdade de Medicina da UC (FMUC) e do Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia (CiBB). “O contexto de um serviço de urgência é particularmente desafiante para pessoas com demência, especialmente se não devidamente acompanhadas”, acrescenta.

Os dados agora publicados na Annals of Emergency Medicine, uma das revistas científicas com maior impacto a nível mundial na área da emergência médica, sublinham “a relevância dos serviços de urgência enquanto locais onde as pessoas são cuidadas no seu final de vida, que permanece em grande parte invisível no debate sobre as urgências em Portugal e nos estudos desenvolvidos até ao momento”, revela a especialista em cuidados paliativos, detentora da Cátedra Floriani em Cuidados Paliativos da FMUC.

Entre os 35 países analisados, apenas Portugal (com base em dados cedidos pela Direção-Geral da Saúde e recolhidos através do SICO – Sistema de Informação dos Certificados de Óbito) e, em certa medida, os Estados Unidos da América e a África do Sul registam o serviço de urgência como local de falecimento. Nestes últimos países, 6,4% e 1,9% das pessoas morreram no serviço de urgência e ambulatório, respetivamente. Bárbara Gomes acredita que o conhecimento destes dados “coloca Portugal numa posição privilegiada para conhecer a realidade dos serviços de urgência enquanto local de morte e atuar sobre essa realidade, para que os cuidados em fim de vida estejam cada vez mais alinhados com as preferências de doentes e suas famílias.”

“É crítico assegurar que as equipas dos serviços de urgência estão devidamente preparadas para reconhecer pessoas com necessidades paliativas e que as instituições dispõem dos recursos para responder adequadamente às necessidades dos doentes e dos seus familiares neste contexto”, partilha a investigadora. “Por outro lado, importa prevenir, sempre que possível, este recurso a serviços de urgência, com o devido apoio no domicílio”, acrescenta.

A investigação foi desenvolvida no âmbito do projeto de investigação EOLinPLACE – Escolha de onde morremos: uma reforma da classificação para discernir a diversidade nos percursos individuais de fim de vida, liderado por Bárbara Gomes e financiado pelo Conselho Europeu de Investigação. Este artigo científico, intitulado “Morrer no serviço de urgências não pode ser ignorado” contou com a participação da estudante de doutoramento da FMUC, Beatriz Sanguedo, e da docente da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, Sílvia Lopes.

Já em 2024, a mesma equipa de investigação publicou estudos com dados sobre a percentagem de pessoas que prefere morrer em casa e a percentagem que realmente morre no domicílio. Neste novo artigo, as investigadoras sublinham a necessidade de “a nível global, incluir o serviço de urgência como um dos locais de morte registados no certificado de óbito, enquadrado num esforço de harmonização mundial da forma como são registados os locais de morte”.

Com o projeto e os vários estudos publicados, a equipa de investigação pretende contribuir para melhorar a prestação dos cuidados de saúde em fim de vida, ambicionando transformar a forma como se classificam os locais onde as pessoas são cuidadas no final da sua vida e onde acabam por morrer, criando uma pioneira classificação internacional dos locais de morte, que contemple serviços de urgência, algo que não acontece atualmente na grande maioria dos países.

O artigo está disponível em online.

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