loading

- Publicidade -

Investigação procura perceber como o cérebro processa emoções positivas de outras pessoas

Redação Central Press/
30/09/2025, 09h07
/
5 min
Flavia Ricciardi @DR
Flavia Ricciardi @DR

Desvendar novas informações sobre como o cérebro processa as emoções positivas de outras pessoas e compreender o impacto dessa perceção nas relações sociais é o objetivo de um projeto de investigação liderado pela Universidade de Coimbra (UC), de acordo com o comunicado enviado à Central Press.

Com esta investigação, os cientistas esperam saber mais sobre os mecanismos biológicos subjacentes à criação de empatia pelas emoções positivas de terceiros – as quais, ao contrário das emoções negativas, têm recebido pouca atenção da comunidade científica. Uma vez que a perceção das emoções positivas nos outros é particularmente prejudicada nas perturbações psiquiátricas, este estudo pretende contribuir para o desenvolvimento futuro de abordagens farmacológicas para estas condições.

O projeto ARROW: Neural Correlate for the Perception of Others Reward (Correlato Neuronal da Perceção da Recompensa dos Outros, em língua portuguesa) vai estar em curso até 2028. É financiado com mais de 150 mil euros (156 778,56 euros, mais precisamente) pelo instrumento ERA Post-doctoral Fellowships, no âmbito das Ações Marie Skłodowska-Curie Post-doctoral Fellowships, que financia projetos de pós-doutoramento com o intuito de apoiar a carreira e a empregabilidade de investigadores doutorados e, em simultâneo, promover a mobilidade, uma vez que o projeto ARROW vai ser desenvolvido em Portugal e França.

Vai ser conduzido pela investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Celular da UC (CNC-UC) e do Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia (CiBB), Flavia Ricciardi, e tem como supervisora a investigadora do CNC-UC e do CiBB, especialista em comportamento social, Cristina Márquez.

Embora se saiba que o processamento cerebral das emoções dos outros – isto é, como percecionamos o que os outros sentem – é essencial para a interação social e para a empatia, os mecanismos cerebrais que espoletam estas ações permanecem desconhecidos, em particular no que diz respeito às emoções positivas. “Sabemos que vários animais percebem, partilham e agem por influência de estados afetivos dos seus pares, um fenómeno semelhante à empatia humana chamado contágio emocional. Neste quadro, as emoções positivas têm recebido pouca atenção por parte da comunidade científica, apesar da sua elevada relevância para o nosso bem-estar”, explica Flavia Ricciardi.

- Publicidade -

Em busca de novas informações sobre como o cérebro processa emoções positivas de outras pessoas, e também sobre como as utiliza para agir em contexto social, o grupo de investigação de Circuitos Neuronais do Comportamento Social do CNC-UC, que é liderado por Cristina Márquez, já conseguiu identificar novos detalhes sobre o funcionamento da Área Tegmental Ventral em ratos – uma região do cérebro essencial para os circuitos de recompensa e de emoção. “A informação que recolhemos indica que esta área responde não apenas à recompensa própria, mas também à recompensa dos outros, o que pode significar que usamos os mesmos circuitos cerebrais para o nosso sistema de recompensa e para percecionar a recompensa sentida por outras pessoas”, explica Flavia Ricciardi.

A partir das informações anteriormente recolhidas em projetos coordenados por Cristina Márquez, o projeto ARROW pretende “elucidar de que forma o cérebro processa estados afetivos positivos de terceiros e como é que essa informação é utilizada para guiar a tomada de decisões pró-sociais, ou seja, decisões que beneficiam outras pessoas”, avança a investigadora. Flavia Ricciardi adianta ainda que “a investigação será desenvolvida num modelo animal robusto que permitirá descobrir mecanismos biológicos próximos da realidade humana”.

“Desvendar os mecanismos que estão na base deste fenómeno social constitui um passo fundamental para o desenvolvimento de novas intervenções farmacológicas em condições clínicas como a depressão, o transtorno do espectro do autismo ou a ansiedade social”, acrescenta a investigadora. Por exemplo, “identificar conexões neuronais atípicas poderá ser indicativo de maior risco de dificuldade em desenvolver habilidades sociais e, como tal, conhecer melhor esses circuitos do cérebro poderá ajudar, futuramente, a agir em antecipação perante essas dificuldades”, avança.

Perante a complexidade e detalhe destes processos emocionais e cognitivos, a equipa de investigação vai utilizar uma técnica in vivo de eletrofisiologia, que permite registar a atividade separada dos neurónios. Por exemplo, permite compreender a sua atividade individual no sistema de recompensa quando experimentamos as nossas próprias emoções positivas e as dos outros, mais concretamente que sinais são emitidos quando nos deparamos com recompensas e com as recompensas experienciadas por outras pessoas. A interação do sistema de recompensa com o Córtex Cingulado Anterior, outra região do cérebro envolvida em funções como o contágio emocional e o comportamento social, também vai ser estudada.

Além da investigadora Cristina Márquez, o projeto ARROW também conta com a colaboração de Alexandre Charlet, investigador do Instituto de Neurociências Celulares e Integrativas (Institute for Cellular and Integrative Neurosciences) da Universidade de Estrasburgo, onde parte desta investigação vai também ser realizada, em particular o uso da eletrofisiologia in vitro combinada com a optogenética, uma técnica robusta utilizada nas neurociências para manipular a atividade neuronal em tempo real.

- Publicidade -

()Comentários

loading
A verificar login...

Outros artigos em undefined

loading

- Publicidade -

Artigos de Opinião

loading