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Central Fotovoltaica Sophia gera contestação na Beira Interior: carta aberta, Quercus e Plataforma Cívica manifestam preocupações

Redação Central Press/
01/11/2025, 06h52
/
4 min
Central Fotovoltaica ©Envato
Central Fotovoltaica ©Envato

A instalação da Central Solar Fotovoltaica Sophia, prevista para os concelhos do Fundão, Penamacor e Idanha-a-Nova, tem gerado crescente contestação na região da Beira Interior.
O projeto, associado a linhas de muito alta tensão, está em consulta pública e levanta preocupações entre populações, autarcas e organizações ambientais quanto aos seus impactos ambientais, patrimoniais e socioeconómicos.

Neste contexto, surgiram três intervenções públicas de relevo:

  • Uma carta aberta da presidente da Câmara de Comércio da Região das Beiras, que denuncia os efeitos potencialmente devastadores do projeto sobre o território e as comunidades locais;
  • O posicionamento da associação ambientalista Quercus, que alerta para riscos ecológicos e sobreposição com áreas protegidas;
  • O manifesto da Plataforma Cívica de Defesa do Parque Natural do Tejo Internacional, que contesta a localização e dimensão dos projetos solares previstos para o distrito de Castelo Branco.

O artigo que se segue apresenta, de forma integral e isenta, o conteúdo da carta aberta e as posições das duas entidades ambientais, permitindo ao leitor compreender os diferentes ângulos de um debate que opõe a transição energética à preservação ambiental e cultural do interior do país.

Carta Aberta da presidente da CCRB

Às Populações da Beira, Aos Órgãos de Soberania, Aos Órgãos de Comunicação Social,

Enquanto cidadã, fundanense e valeprazerese de coração, e na qualidade de Presidente da Câmara de Comércio da Região das Beiras, não posso calar-me perante o projeto de instalação da Central Solar Fotovoltaica de Sophia e das Linhas de Muito Alta Tensão associadas. Este projeto, que afeta os concelhos do Fundão, Penamacor e Idanha-a-Nova, em especial a minha aldeia da Mata da Rainha, não é progresso; é um atentado anunciado que acelerará a desertificação do interior. É isto que queremos para o nosso futuro?

A população ainda não foi devidamente informada sobre as implicações permanentes e irreversíveis que este megaprojeto trará:

· Alterações Climáticas Locais Extremas: O próprio estudo do projeto admite um aumento de 3 a 5 graus Celsius na temperatura local. Estamos a falar de verões prolongados, com meses a fio de temperaturas que podem rondar os 50 graus, tornando a vida insuportável.
· Poluição e Degradação Ambiental: Seremos afetados por poeiras de vidro, cimento e ferro durante a construção, e por ruído permanente. Aumentará a concentração de CO₂ localmente e a desertificação do solo será uma realidade, tornando a terra estéril e sem vida.
· Morte do Turismo e da Economia Local: Quem tem turismo rural, casas de campo ou negócios ligados à natureza pode dizer-lhes adeus. Ninguém quer passar férias no meio de um mar de painéis solares e linhas de alta tensão.
· Impacto Visual e Patrimonial Incalculável: Aldeias Históricas como Monsanto e Penha Garcia, bem como a Mata da Rainha com a sua Torre dos Namorados e o castro da Covilhã Velha, verão a sua paisagem única e o seu valor patrimonial irremediavelmente afetados. A paisagem será industrial, não rural e histórica.
· Isolamento e Perda de Acesso: Inúmeras povoações e aldeias ficarão permanentemente isoladas, cercadas por painéis. Sim, vão cortar acessos públicos e caminhos de terra batida, seccionando o território e a vida das comunidades.
· Perda de Solo Agrícola e de Biodiversidade: Perdem-se terras férteis para cultivo e perde-se a caça, um elemento vital da cultura e da economia locais.

Aos Senhores Caçadores, às populações que ficarão permanentemente expostas a campos eletromagnéticos, e a todos os que acham que este problema não lhes bate à porta, estão enganados! Toda a Beira tem que se mobilizar, porque após esta primeira central estar estabelecida, existem planos para a mesma se expandir, transformando a nossa região num parque industrial solar.

Aquilo que é NOSSO, só o perdemos uma vez. E estamos a perdê-lo à GRANDE! Perdemos saúde, bem-estar, emprego, cultura, história e segurança climática e ambiental. E em troca de quê? De absolutamente nada, a não ser a perda de tudo isto e uma conta de eletricidade ainda mais alta!

É por isto que TODOS temos que ir aos próximos protestos e MOSTRAR, SEM MEDO, a nossa indignação e a nossa NÃO ACEITAÇÃO pelo que nos querem fazer a nós, aos nossos filhos e netos!

Exigimos:

Transparência Total e Participação Pública: Realização urgente de sessões públicas de informação com a participação da empresa promotora e de especialistas independentes para uma avaliação credível e isenta dos impactos.

Informação Clara e Acessível: Disponibilização de informações claras e compreensíveis sobre a localização precisa da central e uma descrição específica e detalhada de todos os impactos ambientais, sociais e económicos.

Reavaliação do Projeto: O redimensionamento e a relocalização do projeto "Sophia", com a apresentação de alternativas credíveis para minimizar os impactos negativos a todos os níveis.

Apelo:

· Às Câmaras Municipais do Fundão, Penamacor e Idanha-a-Nova para que tomem medidas imediatas no sentido de apoiarem e cooperarem com os seus munícipes, defendendo intransigentemente os seus interesses.
· Ao Sr. Presidente da República, Prof. Dr. Marcelo Rebelo de Sousa, ao Governo de Portugal, ao Exmo. Sr. Primeiro-Ministro Dr. Luís Montenegro, e ao Exmo. Sr. Ministro Adjunto da Coesão Territorial, Dr. Manuel Castro Almeida, que intervenham e ouçam o grito de alerta do interior.
· À Agência Portuguesa do Ambiente e ao Ministério da Energia, que cumpram a sua missão de proteger o ambiente e as populações, rejeitando projetos que comprometem o futuro sustentável das regiões.

Enquanto Presidente da Câmara de Comércio da Região das Beiras, apelo a todas as pessoas, empresas e instituições que assinem Já a petição pública contra o licenciamento do projeto Sophia CFS no site www.participa.pt !

Façam com que todo o vosso círculo familiar, de amigos e profissional assine! Temos apenas até dia 20 de Novembro para mostrar ao Governo que levamos a Beira ao mundo e queremos ter o Mundo na nossa Beira, mas não à custa da sua destruição.

Honremos os nossos antepassados, como Viriato, que com coragem e determinação defendeu estas terras. Que o nosso grito de guerra ecoe por toda a região:

SOPHIA, NÃO PASSARÁS!

Com a máxima estima e determinação,
Ana Correia
(Presidente da Câmara de Comércio da Região das Beiras e Cidadã Fundanense)"

Posição da Quercus

A associação ambientalista Quercus manifestou “profunda preocupação” com o projeto da Central Fotovoltaica da Beira, prevista para os concelhos de Castelo Branco e Idanha-a-Nova.
Segundo o comunicado publicado a 3 de outubro de 2025, o projeto abrange 524,4 hectares e 425.600 módulos fotovoltaicos, com potência total de 266 MW, situando-se muito próximo ou sobreposto à Zona de Proteção Especial (ZPE) do Tejo Internacional, Erges e Pônsul.

A Quercus alerta que a instalação pode afetar espécies ameaçadas, como a águia-imperial-ibérica, e comprometer a integridade dos ecossistemas da região.
A associação reconhece a importância da transição energética, mas defende que as centrais devem localizar-se em áreas já artificializadas ou de baixo valor ecológico, evitando “um risco elevado e desnecessário para valores naturais”.

Posição da Plataforma Cívica

A Plataforma de Defesa do Parque Natural do Tejo Internacional, designada como Plataforma Cívica, entregou a 29 de outubro de 2025 um manifesto em Idanha-a-Nova contra os projetos solares na região.
O documento classifica as centrais planeadas - incluindo a Sophia e a Central Fotovoltaica da Beira - como “a maior ameaça ao Parque Natural do Tejo Internacional, à zona de proteção especial para as aves e ao Geoparque Naturtejo”.

A plataforma considera que o projeto viola o Plano Diretor Municipal e se sobrepõe a zonas classificadas, apelando ao chumbo dos projetos durante a consulta pública.
O movimento reúne cidadãos, associações locais e entidades estrangeiras, defendendo que os investimentos energéticos devem ser compatíveis com o património natural e cultural da região.

O debate em torno da Central Fotovoltaica Sophia reflete uma tensão crescente entre os objetivos de transição energética e a preservação ambiental e territorial do interior.
Enquanto as populações e entidades locais apelam à reavaliação do projeto, a decisão final dependerá da análise da Agência Portuguesa do Ambiente e das entidades governamentais competentes, num processo em que a transparência e o equilíbrio entre desenvolvimento e conservação serão determinantes para o futuro da Beira Interior.

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