A investigadora da Universidade de Coimbra (UC), Eugénia Carvalho, está a desenvolver na Guiné-Bissau um trabalho de investigação que pretende contribuir para a criação de estruturas de prevenção e literacia sobre a diabetes no país. Atualmente, a cientista está a colaborar no desenvolvimento de um rastreio de gestantes, tendo em vista a diminuição da mortalidade materno-infantil, e no mapeamento nacional da desnutrição, de acordo com nota de imprensa enviada à Central Press.
O trabalho de investigação na Guiné-Bissau teve início em 2020, quando a investigadora da Universidade de Coimbra, que lidera o Grupo de Investigação de Obesidade, Diabetes e Complicações no Centro de Neurociências e Biologia Celular da UC (CNC-UC), iniciou um projeto que pretendia estudar naquele país o efeito protetor da vacina da BCG na diabetes, a partir do primeiro grande rastreio nacional da doença.
Durante este trabalho, que já tem resultados disponíveis em artigos publicados em 2024 e 2025, e também na tese de doutoramento de Lilica Sanca, desenvolvida na UC, sobre a prevalência da diabetes no país , a cientista começou a identificar uma necessidade de ação regular para a prevenção e a literacia sobre a doença.
“As pessoas não sabem o que é a diabetes e pensam que é uma doença infeciosa, transmissível. Quanto aos tratamentos, também não conseguem administrá-los de forma autónoma. Estamos a chegar a muitos milhares de pessoas e, para muitas delas, foi no primeiro rastreio nacional que pela primeira vez ouviram falar da doença”, contextualiza a investigadora.
A investigação que tem desenvolvido em colaboração com várias entidades “deixa antever uma tarefa ainda mais complexa que cientistas e médicos têm em mãos: torna-se necessária uma atuação transversal às áreas da saúde, nutrição, educação e sensibilização para prosseguir o combate à doença, que se assinala hoje, 14 de novembro, no Dia Mundial da Diabetes”, destaca Eugénia Carvalho.
“Atualmente, os organismos a atuar na Guiné têm como foco central doenças infeciosas. Assim, a atenção dada a doenças crónicas não-transmissíveis é menor, como acontece com a diabetes e a hipertensão, as quais crescem de forma exponencial”, alerta a investigadora.
Perante este quadro, o objetivo do trabalho desenvolvido por Eugénia Carvalho, em conjunto com investigadores da Guiné-Bissau e diversas entidades, centra-se em dar a conhecer à população do país a problemática das doenças crónicas não-transmissíveis.
As prioridades deste trabalho desdobram-se entre a sensibilização e literacia da população e a promoção de um novo rastreio, agora para gestantes. “Rastrear 3,5 a 5 mil mulheres para diminuir a mortalidade materno-infantil é um dos próximos objetivos, tendo já sido rastreadas 500 gestantes”, avança a investigadora. Este projeto conta com financiamento do Instituto Camões em colaboração com a Associação Bisturi Humanitário.
Já na literacia em saúde, Eugénia Carvalho destaca que “a literacia da população, essencial na gestão da doença, é uma das tarefas mais complexas por cumprir. Temos trabalhado na promoção da literacia, promovendo a difusão de bandas desenhadas em português e crioulo, em colaboração com o artista local Manuel Júlio, e de spots informativos nas rádios comunitárias, nas línguas locais”, partilha.
A formação de profissionais tem sido também uma prioridade. A inexistência de formação local levou à criação de um projeto, liderado pela Organização Não Governamental para o Desenvolvimento HELPO e financiado também pelo Instituto Camões. Neste âmbito, está a decorrer em todo o país, até dezembro de 2026, um plano de capacitação e literacia em nutrição. A cientista explica que estão “a fazer o mapeamento nacional da desnutrição, trabalhando com alunos locais e aplicando questionários adaptados do PAS GRAS”, projeto europeu liderado pela UC.
