A Rede Local de Prevenção da Violência ao Longo do Ciclo de Vida (RLPVCV) realizou o seu III Encontro subordinado ao tema “Multiculturalidade e Prevenção da Violência”, no dia 20 de novembro, no Auditório da Resinagem, na Marinha Grande, reunindo mais de uma centena de especialistas, representantes institucionais e técnicos de várias áreas, para refletir sobre os desafios e estratégias de prevenção da violência num contexto de crescente diversidade cultural, de acordo com nota de imprensa enviada à Central Press.
Na sessão de abertura, a vereadora da Câmara Municipal, Carla Santana, destacou que a cooperação entre todas as entidades presentes “é parte da solução para promover a paz, a inclusão e a construção de uma sociedade mais justa e plural”.
Clarisse Bento, representante da RLPVCV, destacou o percurso da Rede desde a sua criação em 2019, salientando que a reativação agora concretizada “permite voltar a unir esforços e consolidar intervenções especializadas nas áreas sociais, jurídicas e de justiça, orientadas por uma matriz de diversidade cultural e de prevenção ao longo de todo o ciclo de vida”.
A representante da ULS da Região de Leiria, Denise Cunha Velho, sublinhou que “a multiculturalidade é cada vez mais uma marca distintiva da nossa região”, constituindo simultaneamente uma riqueza e um desafio. Destacou a necessidade de respostas integradas em rede e o papel determinante dos cuidados de saúde primários como fator de proteção.
O diretor regional da Segurança Social, João Paulo Pedrosa, realçou a importância de políticas consistentes de acolhimento e integração, reforçando que a ação em rede – envolvendo autarquias, instituições e IPSS – é essencial para responder à complexidade dos desafios atuais. Enalteceu ainda o papel determinante das entidades do território no apoio às populações migrantes.
O primeiro painel, moderado pelo Comandante Distrital da PSP de Leiria, Domingos Antunes, abordou temas como os desafios da integração, violência ao longo do ciclo de vida, tráfico humano e o impacto da violência nas famílias.
A investigadora Teodora Isfan, do Observatório das Migrações, destacou que, apesar do aumento absoluto dos fluxos migratórios, a proporção mundial de migrantes se mantém estável. Em Portugal, cerca de 10% da população é estrangeira, sendo a comunidade brasileira a mais representativa. Alertou ainda para o envelhecimento demográfico e para o contributo decisivo das populações migrantes em idade ativa.
O procurador Carlos Ferreira, do Ministério Público, e Ludmila Marques, do DIAP de Leiria, analisaram o impacto da violência nas relações familiares, sublinhando o crescimento da violência psicológica, a transmissão intergeracional da violência e a importância do empoderamento das vítimas. Destacaram que a violência doméstica continua a ser “o crime mais participado em Portugal”.
Lisandra Lopes, da Associação para o Planeamento da Família, reforçou a necessidade de capacitar profissionais e reforçar mecanismos de apoio e proteção às vítimas.
O segundo painel foi moderado por Cristina Barroso, Coordenadora do Centro de Respostas Integradas de Leiria – Instituto para os Comportamentos Aditivos e Dependências (ICAD) e centrou-se nas práticas inclusivas na área da saúde, educação e intervenção comunitária.
A investigadora Carla Moleiro (ISCTE) abordou competências clínicas para a diversidade e a importância de compreender a identidade cultural como um processo dinâmico.
A enfermeira Ana Lúcia Torgal destacou que a vigilância da gravidez é muitas vezes o primeiro contacto das mulheres migrantes com o SNS, realçando medidas preventivas como materiais informativos traduzidos, identificação precoce de fatores de risco e atenção a práticas como a mutilação genital feminina.
O docente Fernando Emídio e a mediadora Bárbara Varela, do Agrupamento de Escolas Marinha Grande Poente, apresentaram o trabalho que envolve alunos de 36 nacionalidades, projetos artísticos e culturais, mediação com famílias migrantes e criação de recursos pedagógicos multilingues.
Inês Guiomar, da Ordem dos Psicólogos Portugueses, alertou para o impacto do luto migratório, das condições de acolhimento e da pobreza na saúde mental, destacando a necessidade de mais mediadores culturais, intérpretes e respostas interdisciplinares.
