Mira foi ontem, dia 12 de dezembro, palco da apresentação dos resultados do projeto de investigação BioComp 3.0, que demonstrou ser possível transformar a biomassa de jacintos-de-água, uma das plantas invasoras aquáticas mais problemáticas do país, em fertilizante orgânico, através de processos de compostagem combinada com outros resíduos, de acordo com nota de imprensa enviada à Central Press.
O encontro, subordinado ao tema “Soluções Circulares para a Gestão de Biomassa”, reuniu em Mira representantes das 13 entidades parceiras do consórcio, incluindo instituições de ensino superior, centros de investigação, empresas, a CCDRC e a CIM Região de Coimbra. Ao longo de dois anos e meio, o projeto estudou soluções sustentáveis para a enorme quantidade de biomassa resultante da remoção do jacinto-de-água dos rios e lagoas do território.
Segundo Manuel Rodrigues, coordenador do BioComp 3.0 e especialista do Instituto Politécnico de Bragança, o foco esteve “não apenas no combate direto à invasão, mas sobretudo no destino da biomassa recolhida”. A investigação testou múltiplas combinações de compostagem e identificou duas soluções promissoras: jacinto-de-água + estilha florestal; jacinto-de-água + estilha florestal + estrume de cavalo.
Estes compostos foram já testados em diversas culturas agrícolas, com resultados encorajadores. Contudo, o especialista reforçou que a futura utilização e comercialização dependem de autorização e enquadramento legal, dada a sensibilidade no manuseamento desta planta invasora.
Durante a sessão, foi também destacado o papel da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra (CIM- RC), que, ao longo dos últimos anos, tem assumido uma intervenção contínua no combate aos jacintos-de-água e na produção de conhecimento técnico.
Para Jorge Brito, secretário-executivo da CIM-RC, a solução apresentada representa “um passivo transformado em ativo”. Sublinhou ainda que o combate às plantas invasoras exige continuidade, atuação “em toda a linha de água” e um enquadramento territorial conjunto. Defendeu igualmente a criação de um campo de testes supervisionado pelas autoridades ambientais, onde se possam desenvolver soluções seguras e eficazes.
O presidente da Câmara Municipal de Mira, Artur Fresco, afirmou que as conclusões do BioComp 3.0 “transformam um problema numa oportunidade de negócio”, abrindo portas à criação de valor económico a partir de um recurso até aqui tratado como resíduo.
No entanto, o autarca alertou para a realidade vivida pelos municípios: “Temos sido nós, municípios, a substituir-nos às autoridades ambientais no combate aos jacintos-de-água. Investimos milhares de euros em maquinaria e recursos humanos e raramente somos ressarcidos. A CIM tem sido o nosso único parceiro constante.”
Artur Fresco reforçou que Mira é “um lutador nesta matéria”, lembrando que o concelho possui vários planos de água, com destaque para a Barrinha da Praia de Mira, que importa manter limpos e aptos para atividades náuticas, desportivas e de lazer, essenciais à identidade e à economia local.
