Mais de uma centena de representantes da indústria do vidro, reguladores, cientistas e empresas de diversos setores reuniram-se esta quarta-feira, 26 de junho, no Centro Cultural de Belém, para o evento “O Vidro e a sua Cadeia de Valor rumo à Descarbonização”. O encontro foi promovido no âmbito do projeto RODIV2050 - Roteiro para a Descarbonização da Indústria do Vidro de Embalagem e Cristalaria, uma iniciativa conjunta da AIVE - Associação dos Industriais de Vidro de Embalagem e da APICER - Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e Cristalaria.
A frase “Que a cura não mate o paciente” marcou o tom do evento, sintetizando a principal preocupação das empresas do setor: a urgência da transição energética e ambiental não pode comprometer a viabilidade económica de uma indústria que assume já um papel relevante na economia circular.
Portugal produz anualmente cerca de 1,6 milhões de toneladas de vidro, entre embalagens e cristalaria, o que representa aproximadamente 3,1 a 3,5 mil milhões de peças. No processo de fabrico, o setor incorpora entre 700 a 750 mil toneladas de casco de vidro reciclado, recolhido tanto a nível nacional como internacional. Esta prática permite evitar a emissão de 250 a 255 mil toneladas de CO₂ por ano, face ao uso exclusivo de matérias-primas virgens, e resulta numa poupança energética na ordem dos 590 GWh anuais - energia suficiente para abastecer todas as habitações da cidade de Lisboa durante oito a nove meses, ou Coimbra por três anos.
No evento foram abordadas estratégias concretas para a descarbonização da cadeia de valor do vidro, com intervenções da AIVE e da FEVE – European Container Glass Federation, centradas nos desafios e metas da União Europeia. A manhã incluiu ainda um painel de debate sobre as práticas de descarbonização já em curso nas fábricas portuguesas, bem como os obstáculos impostos pelo novo Regulamento Europeu das Embalagens (PPWR), atualmente em fase de adoção.
O painel sobre ecodesign e circularidade destacou o papel crítico que os designers podem ter na definição do potencial de reciclagem dos produtos, sendo apontadas recomendações e melhores práticas que poderão ser replicadas em toda a indústria.
Entre os temas abordados estiveram também as oportunidades de colaboração entre empresas, a disseminação de boas práticas das grandes indústrias para as PME, o impacto do setor dos transportes e as possibilidades de inovação na criação de novos produtos no contexto da economia circular. O setor alimentar foi citado como exemplo, com a apresentação dos compromissos ambientais de empresas que usam diariamente o vidro.
O RODIV2050 pretende assim funcionar como um roteiro estratégico rumo à neutralidade carbónica do setor do vidro de embalagem e cristalaria até 2050. Os participantes do evento sublinharam que as soluções de descarbonização precisam de ser não só ambientalmente eficazes, mas também técnica e economicamente viáveis, para que as empresas possam manter a sua competitividade no mercado global.
Com a crescente pressão regulatória europeia e as exigências dos consumidores em torno da sustentabilidade, o setor do vidro português reitera o seu compromisso com a inovação e a circularidade, sem abdicar da solidez industrial que sustenta milhares de postos de trabalho e uma longa tradição de excelência.
