Fenómeno atmosférico foi avistado no dia 29 de junho em várias zonas do litoral; vídeo e fotos captados na Figueira da Foz, Tocha, Mira entre outras localidades geraram comentários e alarme entre veraneantes e algumas pessoas, inicialmente e equivocadamente, chegaram a pensar tratar-se de um tsunami.
Uma rara formação atmosférica conhecida como nuvem volutus surpreendeu centenas de pessoas nas praias da costa portuguesa no sábado, 29 de junho. O fenómeno foi particularmente marcante na Figueira da Foz, onde um vídeo amplamente partilhado nas redes sociais mostra uma longa nuvem tubular a avançar rapidamente em direção à costa, gerando momentos de tensão e espanto entre os veraneantes.
A forma e o movimento da nuvem - que parecia “rolar” no céu - levaram alguns banhistas a acreditar, equivocadamente, que se tratava de um tsunami iminente, dada a sua semelhança visual com uma grande massa de água a aproximar-se da terra. Contudo, os especialistas esclarecem: o fenómeno não tem qualquer relação com eventos sísmicos ou marítimos extremos.
“Esta nuvem chama-se volutus e, apesar de impressionante, é inofensiva”, explica fonte do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). “Forma-se devido a um cisalhamento do vento que gera uma rotação horizontal do ar, criando uma estrutura isolada que pode percorrer vários quilómetros.”
Entre a curiosidade e o alarme, a nuvem volutus observada no sábado estendeu-se ao longo de vários quilómetros e foi avistada em várias praias da zona Centro e Norte, nomeadamente na Figueira da Foz, Tocha, Mira, Praia da Barra e Espinho.
Na Figueira da Foz, a sua aproximação determinada - associada a um súbito arrefecimento do ar e ao obscurecimento parcial do sol - intensificou a sensação de alerta.
“De repente vimos uma espécie de aproximação gigante a vir do mar em nossa direção. Algumas pessoas começaram a sair da água com receio de que fosse um tsunami”, contou à Central Press Carla Simões, banhista habitual na praia da Claridade.
A associação visual ao fenómeno de tsunami deve-se à sua forma e ao modo como avança horizontalmente em direção à linha costeira. Contudo, um tsunami verdadeiro é precedido por um recuo anormal do mar, muitas vezes abrupto, quando a água se retrai para alimentar a onda. Esse sinal de alerta não foi observado no sábado, confirmando que não havia qualquer risco real.
A nuvem volutus - um fenómeno raro e fascinante - é uma formação rara e apenas foi reconhecida oficialmente pela Organização Meteorológica Mundial em 2017, como uma variante das espécies stratocumulus ou altocumulus.
Como se formam?
Formam-se devido ao ar húmido e ligeiramente instável que sobe suavemente, especialmente quando existe inversão térmica (camadas superiores da atmosfera mais quentes que as inferiores), que impede o desenvolvimento de nuvens mais altas
- Os estratocúmulos são uma das categorias de nuvens onde pode surgir o fenómeno da nuvem volutus, uma variação mais rara, em forma de rolo, da estrutura típica destas nuvens.
- As altocúmulos (altocumulus, em latim científico) são um tipo de nuvem média que aparece normalmente como camadas ou grupos de nuvens brancas ou acinzentadas - situam-se geralmente entre 2.000 e 6.000 metros de altura - com uma textura fofa e fragmentada, por vezes lembrando pequenas bolas de algodão ou escamas de peixe - o que deu origem à expressão popular “céu empedrado” ou “céu de ovelhas”.
Embora visualmente semelhante a outras formações como a shelf cloud (nuvem arcus), a volutus distingue-se por não estar ligada a cumulonimbos nem trazer associada precipitação ou trovoada.
O seu impacto é sobretudo estético e atmosférico, podendo anunciar alterações locais na circulação do ar, como a aproximação de frentes frias ou brisas marítimas intensas.
O que fazer se vir uma nuvem como esta?
Apesar do seu aspeto dramático, uma nuvem volutus não representa perigo. Especialistas recomendam a observação calma e, para os mais curiosos, a oportunidade de registar fotograficamente um fenómeno meteorológico invulgar.