A decisão do Partido Social Democrata (PSD) de substituir o militante Ricardo Sousa Bastos por Jorge Ratola como candidato à Câmara Municipal de Espinho nas eleições autárquicas de 2025 está a provocar uma das maiores discussões políticas dos últimos anos na estrutura local e distrital do partido.
Em comunicado emitido hoje dia 08 de junho, a Comissão Política Distrital de Aveiro esclareceu que Ricardo Sousa “conhece há muito as razões pelas quais a sua eventual candidatura não mereceu acolhimento do partido”, e que a escolha de Jorge Ratola resulta “das suas enormes qualidades humanas, profissionais e políticas sempre evidenciadas, facto amplamente reconhecido pelos militantes do PSD e todos os que o conhecem”.
Segundo o mesmo documento, a candidatura de Ratola foi votada “quase por unanimidade”, tendo o único voto contra partido do próprio Ricardo Sousa.
Contudo, a explicação oficial não foi suficiente para travar a indignação de Ricardo e de alguns militantes da secção local de Espinho, que consideram a intervenção das estruturas superiores uma ruptura com a tradição de respeito pelas decisões locais que remonta a 1976.
A 18 de novembro de 2024, a secção do PSD de Espinho anunciou, por unanimidade, a escolha de Ricardo Sousa Bastos como candidato à Câmara Municipal. Licenciado em Direito e com 25 anos de militância, Ricardo Sousa é uma figura histórica da concelhia: foi líder da estrutura local, desempenhou funções de deputado à Assembleia da República entre 2022 e 2024 e já integrara os quadros da autarquia como chefe de gabinete do então presidente Pinto Moreira. Conta ainda com mais de uma década como membro da Assembleia Municipal.
A sua candidatura foi reafirmada num plenário realizado em maio de 2025, onde 61 militantes votaram a favor, 9 abstiveram-se e nenhum votou contra. Esta reconfirmação foi interpretada localmente como uma demonstração inequívoca de apoio da base militante espinhense, mesmo após o surgimento de notícias sobre eventuais reservas da direção nacional do partido.
Ricardo Sousa chegou a lançar um manifesto intitulado “Desde 1976 que a escolha do candidato por parte da concelhia é respeitada”, sublinhando que, apesar da autonomia das estruturas superiores, a legitimidade local deve prevalecer.
No início de julho de 2025, a Comissão Política Distrital de Aveiro anunciou oficialmente a candidatura de Jorge Ratola, atual vice-presidente da Câmara de Aveiro e adjunto do primeiro-ministro Luís Montenegro. A decisão foi tomada com base, segundo o partido, em sondagens internas que indicavam que Ricardo Sousa “não reunia condições para vencer” a autarquia espinhense.
Fontes próximas da direção do partido indicaram também que Jorge Ratola terá sido escolhido pelo seu currículo executivo de oito anos ao lado de Ribau Esteves em Aveiro e pela sua reputação de gestor competente e político eficaz. O seu percurso profissional e político são per si, uma demonstração do perfil que o partido considera apropriado para quem quer “um projeto sério, com gestão rigorosa e eficiente”.
A reunião em que foi formalizada a candidatura de Ratola contou com um voto praticamente unânime da distrital - exceção feita ao próprio Ricardo Sousa, que votou contra.
Na conferência de imprensa realizada em reação ao anúncio, Ricardo Sousa mostrou-se indignado com a decisão e afirmou que o processo que levou à sua exclusão foi “um ajuste de contas pessoal com o único propósito "da sua eliminação política”. Segundo o ex-candidato, “nunca foi partilhada qualquer sondagem” com os órgãos locais, acusando a direção nacional de ter “fabricado argumentos” para justificar uma decisão política já tomada de antemão.
Ricardo Sousa afirma ainda que foi contactado para aceitar ser substituído por outras figuras como Salvador Malheiro, mas que vários nomes recusaram a missão por considerarem o processo pouco razoável.
O militante espinhense frisou o seu percurso no partido, lembrando que o seu avô foi fundador da secção local do PSD, e que nunca se tinha registado um episódio em que a escolha local fosse desrespeitada de forma tão direta.
Quem é Jorge Ratola?
Jorge Ratola é licenciado em Relações Internacionais e foi vice-presidente da Câmara Municipal de Aveiro durante os últimos dois mandatos. Ganhou notoriedade como adjunto próximo de Ribau Esteves - presidente que de forma unânime, com a sua equipa, apresentou um trabalho de relevo na Câmara de Aveiro - e, mais recentemente, como elemento da equipa do gabinete do primeiro-ministro Luís Montenegro.
A sua entrada em Espinho é interpretada pela estrutura nacional do PSD como uma forma de trazer “um projeto sério, com gestão rigorosa e eficiente”, procurando conquistar um concelho que o PSD perdeu para o PS em 2021.
Ricardo Sousa solicitou acesso à ata da reunião da distrital e pediu esclarecimentos formais à Comissão Política Nacional sobre os fundamentos legais e estatutários da sua exclusão. Não se conhece, até ao momento, qualquer intenção de sair do partido ou de avançar com uma candidatura independente, embora fontes próximas indiquem que a tensão interna pode escalar.
Entretanto, Jorge Ratola deverá iniciar nas próximas semanas o seu percurso como candidato oficial do PSD à Câmara Municipal de Espinho, cabendo-lhe agora unir as estruturas locais e conquistar o eleitorado num contexto politicamente fraturado.