O Município de Nelas promoveu esta quinta-feira, 4 de setembro, no âmbito da 34.ª Feira do Vinho do Dão, a mesa redonda “Novos Caminhos no Dão”, um espaço de reflexão e partilha que reuniu personalidades de referência do setor vitivinícola e do desenvolvimento regional.
O painel, moderado por Lígia Santos, contou com a participação de Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal, Nuno Martinho, secretário executivo da Comunidade Intermunicipal Viseu Dão Lafões, e Manuel Pinheiro, CEO da Global Wines.
Frederico Falcão destacou que a sustentabilidade social e económica são hoje pilares fundamentais do setor, alertando para o contexto mundial adverso, que tem levado ao arranque de vinhas em vários países, prevendo-se uma produção mais baixa e um mercado mais equilibrado nos próximos anos. Assinalou ainda os desafios colocados pelas novas gerações, que consomem menos vinho, e pelos preços de mercado, defendendo resiliência e aposta em segmentos de maior valor acrescentado. Sublinhou também o potencial do Dão nos vinhos brancos, em particular na casta Encruzado, cuja expressão única poderá ser determinante, prevendo-se até 2040 um crescimento significativo da produção de brancos.
Nuno Martinho reforçou a importância da cooperação entre setor público e privado, apontando os resultados positivos do turismo na região, que registou um crescimento de 14% em 2024 e já alcançou 12% em hóspedes e 11% em dormidas em 2025, posicionando o Dão como a região do país com maior crescimento. Referiu ainda a relevância da gestão de fundos comunitários pela CIM Viseu Dão Lafões, que tem apoiado agentes económicos e promovido a competitividade do destino. Destacou o concelho de Nelas como exemplo de dinamismo, com novos alojamentos, projetos gastronómicos e condições ímpares para o desenvolvimento do enoturismo.
Manuel Pinheiro alertou para a descida do consumo per capita, sobretudo entre as gerações mais jovens, e para as dificuldades em competir com vinhos de baixo preço. Defendeu a necessidade de criar e afirmar marcas fortes como fator distintivo e estruturante, salientando que o futuro passa por valorizar a qualidade, fidelizar consumidores através do enoturismo e apostar na reconversão vitícola. Considerou ainda que o Dão já possui uma imagem e qualidade reconhecida, estando à frente de muitas regiões, e que é fundamental aproveitar esta vantagem competitiva.
No final, ficou expressa a convicção partilhada de que o enoturismo pode e deve ser a grande solução para responder aos desafios do setor, promovendo a sustentabilidade, a fidelização e o reforço da marca Dão a nível nacional e internacional.
Com esta mesa redonda, a Feira do Vinho do Dão reafirma-se não apenas como espaço de promoção cultural e económica, mas também como palco de reflexão estratégica, onde produtores, entidades e público podem discutir e desenhar os caminhos futuros de uma das mais antigas e prestigiadas regiões vitivinícolas de Portugal.