O vice-presidente da Infraestruturas de Portugal (IP) disse hoje que a mudança da bitola ferroviária será feita quando Espanha decidir fazer a migração e que terá um custo estimado de 100.000 euros por km.
“Estamos disponíveis para migrar [a bitola], estamos a falar de 100.000 euros por quilómetro (km). […] Fá-lo-emos quando for necessário e se justificar, quando do lado espanhol nos disserem que vão migrar”, afirmou Carlos Fernandes, na conferência “Comboio de Alta Velocidade em Portugal: desafios e oportunidades”, promovida pela sociedade de advogados SRS, em Lisboa.
O responsável da IP explicou que a opção de construir a linha de alta velocidade em bitola (distância entre carris) europeia foi estudada, mas iria custar mais 3.000 milhões de euros e obrigaria a que a obra fosse feita toda de uma vez, ao contrário da bitola ibérica que permite que o projeto seja executado em três fases.
Carlos Fernandes reiterou que Espanha começou a fazer a migração para bitola europeia, mas já não o está a fazer e não tem planos para a mudança nas próximas décadas, pelo que, se Portugal adotasse a bitola europeia, os comboios chegariam à fronteira e paravam.
Adicionalmente, construir a linha de alta velocidade em bitola ibérica permite que esteja interligada com as linhas já existentes e, por isso, beneficiar o resto do país através de serviços híbridos de alta velocidade com linha convencional.
Relativamente aos riscos e desafios do concurso em modelo de parcerias público-privadas (PPP) que foi lançado para a construção da linha de alta velocidade, o diretor de marketing do banco Millennium bcp, Gonçalo Regalado, realçou que, tendo em conta os valores de financiamento em causa, os bancos terão de se agrupar em modelo de consórcio ou sindicato.
Já do lado das empresas de construção, Vítor Cardoso, da direção da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN), destacou os prazos “muito curtos” para apresentação de propostas a concurso (até 13 de junho).
O responsável apontou que existem cinco consórcios de empresas de construção a preparar concursos, um deles “maioritariamente português e outros que incluem empresas portuguesas”, e considerou que as empresas nacionais estão preparadas para este projeto, embora não consigam fazê-lo sozinhas.
Por sua vez, José Moreira da Silva, sócio da SRS Legal, manifestou as suas dúvidas quanto à exequibilidade do prazo de seis meses para as empresas apresentarem candidaturas, apesar de considerar que a IP preparou um concurso “extraordinariamente simples”. “Estou mesmo a ver que alguns concorrentes vão pedir prorrogação de prazo”, afirmou.
A primeira fase da linha de alta velocidade (Porto - Soure) deverá estar pronta em 2030, com possibilidade de ligação à Linha do Norte e encurtando de imediato o tempo de viagem, estando previsto que a segunda fase (Soure - Carregado) se complete em 2032, com ligação a Lisboa posteriormente, mas assegurada via Linha do Norte.