A presidente da Comissão Política Concelhia do Partido Socialista em Condeixa-a-Nova, Liliana Pimentel, apresentou a sua demissão e desfiliação do partido numa reunião marcada por emoção e protesto. A decisão, que envolve também 60% dos membros efetivos da concelhia e cerca de 200 militantes, surge em resposta ao que consideram ser um reiterado desrespeito pela autonomia local por parte da Federação Distrital de Coimbra.
A noite de 3 de abril de 2025 ficará marcada como um momento de rutura no seio do Partido Socialista em Condeixa-a-Nova. Liliana Marques Pimentel, presidente da Comissão Política Concelhia, apresentou publicamente a sua demissão do cargo e anunciou, com “serenidade e lucidez”, a sua desfiliação do partido, decisão que foi acompanhada por 60% dos elementos da Comissão Política Concelhia e por cerca de 200 militantes da estrutura local.
A decisão foi formalizada numa reunião extraordinária da Comissão Política, na qual Liliana Pimentel fez um discurso emotivo e firme, apontando diretamente à Federação Distrital de Coimbra como responsável pelo clima de instabilidade e afastamento da estrutura concelhia. “A minha decisão resulta de uma profunda e lúcida reflexão face à sucessão conturbada de acontecimentos políticos dos últimos meses, que evidencia uma conduta da Federação Distrital pautada por um grave, sistemático e inaceitável desrespeito pela autonomia da concelhia política”, afirmou a dirigente, militante do PS desde 2005.
O episódio que desencadeou a cisão foi o processo de escolha do candidato socialista à Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova. Liliana foi eleita democraticamente pela Comissão Política Concelhia com 28 votos a favor e 19 contra. Contudo, esta escolha foi ignorada pela Federação Distrital, que avocou o processo e impôs o nome de António Figueiredo como cabeça de lista. “A vossa escolha foi pura e simplesmente desprezada. O processo foi avocado pela Federação, numa ação prepotente que nunca foi convenientemente justificada. A democracia interna, pilar fundamental de qualquer partido que se preze, foi aqui claramente subvertida”, denunciou.
No seu discurso, Liliana Pimentel referiu ainda outras situações que, a seu ver, agravaram a relação com a Federação: a ausência de diálogo, a falta de comunicação e um crescente distanciamento das realidades e aspirações locais. “A Federação tornou-se num bloqueio a qualquer tentativa de diálogo construtivo”, lamentou.
Apesar da saída, a ex-presidente sublinhou o seu respeito pelos ideais do Partido Socialista e pelos militantes com quem partilhou “várias batalhas políticas”, mas frisou que o seu compromisso é com os condeixenses: “A minha consciência dita-me que, neste momento, o meu caminho tem de seguir de forma diferente. Continuarei, como sempre, empenhada no serviço à causa pública e na defesa dos interesses dos condeixenses.”
Liliana Pimentel, professora universitária e ex-vice-presidente da Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova, termina esta etapa política agradecendo o apoio recebido ao longo dos anos e assegura que esse apoio permanece vivo. “Sei, porque mo têm dito diretamente, olhos nos olhos, que esse apoio e confiança se mantêm, independentemente da pertença formal – ou não – ao Partido Socialista”, concluiu.
Com esta demissão em bloco e a saída massiva de militantes, o PS de Condeixa enfrenta agora um dos maiores abalos da sua história local, com impacto político ainda por apurar.